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Manifesto da irrelevância
Este texto originalmente era para ter sido enviado como resposta a um e-mail da lista [email protected] com o assunto "Todos os Caminhos Levam a Ele".
Parece que o meu caminho me levou a associar questões políticas do meu país com questões sociais com questões individuais, e dissociar cada uma destas coisas ao mesmo tempo.
Um paradoxo do pretérito imperfeito, um complexo com a teoria da relatividade.
O caso é que nem tudo o que eu escrevo eu posto, principalmente quando fica muito extenso. Sou um analfabeto em comunicação social e não consigo ver que as pessoas contemporâneas querem textos curtos e "direto ao ponto", desculpa aí.
O título desta postagem faz referência a um blog que eu tenho no blogspot e estou tentando fechar.
O texto propriamente dito é o que segue:
"Eu entendo muito pouco ou quase nada sobre política partidária.
Sou um grande observador de debates "politizados" e escuto sem contrapor qualquer um que tenha algo a dizer sobre política.
Sou incapaz de não me considerar mais sábio que qualquer um que apresente qualquer conhecimento sobre ciência política. Para mim é um absurdo a ideia de que alguém pode ter algo a dizer porque recebeu algum tipo de informação. Sou incapaz de admitir que há alguma informação relevante para ser recebida.
Eu direi então que tenho uma observação clara para compartilhar sobre a situação que conseguiu chegar até minha ótica limitada:
A mensagem do Governo Federal para mim é clara. O pessoal do PT está me dizendo que não tem outro partido melhor para estar no poder além do PT. O que deveria ser óbvio, considerando o fato de que o partido que se encontra no poder hoje é o PT. Mas parece que se faz necessário constatar o presumidamente óbvio, enquanto algo não é elucidado vai continuar mistificado.
Tudo bem, hoje é o PT quem manda, falou ta falado, não tem discussão. Contudo, é evidente para todos que o que o Governo Federal está fazendo tem pouco ou nada a ver com "trabalho" e mais a ver com "social democracia", que é a música que o PSDB vinha cantando antes do PT e hoje já é uma roupa que não nos serve mais.
Tudo bem então, está claro para todos que a força contrária é grande a tal ponto que uma massa partidária como a do PT não tem nada para apresentar a não ser uma versão pseudo-diferente do mais do mesmo. E a Dilma sabe disto, o Lula sabe disto, o Álvaro Dias sabe disto. Ninguém do PT é cego assim como ninguém do PSDB é cego e tampouco alguém aqui do limbo é cego. E antes que falem uma merda, quando digo "cego" não estou falando de deficiência física-visual.
Outra coisa clara que o Governo Federal veio me dizer é que eles não estão lá para trabalhar. Eles estão lá para garantir que a gente que está no ativismo, no trabalho, na fodelança, tenha um mínimo de condições, de recursos pra conseguir pelo menos manter o pouco que a gente conquistou, que eu que sou um guri de merda que ainda não saiu das fraldas não posso mensurar, quem é do tempo que não podia contar piada na rua sem ser abordado pela polícia deve ter mais material para comparar um estado com o outro (e talvez para ver que continuamos no mesmo estado).
Toda vez que alguém vem apresentar alguma conclusão determinando que o PSDB está errado, que o PT está errado, ou então que os dois estão errados, ou então que a ideia de partido está errada, ou então que não há partido que esteja certo, o que esta pessoas realmente estão me dizendo é que elas têm a sua própria versão da fantasia. Não importa qual é a opinião ou ideologia de cada um. Qualquer um que carregue a bandeira do PSDB, do PT, do PMDB, do PCdoB, do PV, do DEM, do PSOL, do PartidoPirata, do NãoPartido, do Socialismo, do Comunismo, do Anarquismo da Anarquia, está dizendo que encontrou a satisfação e o porto seguro. E não se confundam aqui aqueles que não carregam bandeira alguma. Um indivíduo não pode simplesmente não carregar bandeira alguma e concluir por consequência disto que é diferente de alguém que carrega uma bandeira. O porto seguro do desbandeirado é a falta de bandeira. Qualquer um que precise afirmar sua posição ou sua "não-posição", ou então sua inexistência da necessidade de afirmar sua posição ou sua "não-posição" está correndo atrás do rabo.
Este é o discurso que eu escuto desde que eu nasci. Eu nasci quando o José Sarney era presidente e até o presente momento ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Mas como é que vamos cantar uma música nova se não temos condições de admitir a existência de uma música diferente em primeiro lugar? Como é que vamos ter consciência de nossa cegueira, de nossa incapacidade de ver que há algo novo? Como é que alguém pode estar consciente de que há luz fora da caverna se é incapaz de perceber a diferença entre a luz e a escuridão porque nunca viu luz, ou se viu era tão forte que não foi capaz de determinar que aquele era o contrário da escuridão?
No momento em que fiz este último questionamento, um militante do Governo Federal comparou esta frase com alguma coisa que ele deve ter lido em algum lugar que não tenho certeza mas se não me engano ele chamou de "Caverna de Plutão" ou coisa parecida. Depois que eu mandei ele parar de ser ridículo jogando pra cima de mim esse lixo filosófico ele riu e me disse que eu posso e devo fazer todas as críticas que se fizerem necessárias, e também as que não forem necessárias, para o PT ou para qualquer outro partido. Mas me esclareceu satisfatoriamente como era necessária a intervenção do partido dele da forma que está sendo feita.
Isto me possibilitou perceber que a pecabilidade de qualquer um que lute por alguma causa é a causa propriamente dita. A partir do momento que alguém consegue concluir que está direcionado para alguma causa, ideologia, ou princípio, então está criada a miséria e o fracasso, porque sucesso é fantasia.
Há quem diga que o vencedor da guerra é aquele que para de lutar. Eu direi no entanto que não há vitória em uma guerra e parar de lutar é perder. Uma guerra com início, meio e fim não é guerra, é teatro. Estive observando manifestações de 50 anos atrás, onde as pessoas afirmavam que estavam cansadas de guerra e por consequência disto estavam na busca da paz. Pesquisei a história anterior e não encontrei uma guerra sequer. Há quem diga e se convença que o mundo viu duas grandes guerras mundiais. Eu não estive lá para ver, mas o que se apresenta nos livros de história para mim tem pouco ou nada a ver com guerra. Desculpe aí estudantes de história, doutores, professores, mestres. Eu tenho essa mania chata de não acreditar no que os outros dizem, ouvir todas as versões e filtrar por mim mesmo, às vezes sem nem saber muito bem o que é que é o "mim mesmo", tal são os disparates de vossa ignorância que ficam sendo atirados no meu colo, fantasiados de inocência. Guerra para mim não tem absolutamente nada a ver com técnicas pífias de impercutir medo em massas. Isso Hitler fazia muito bem e nem ele nem outro "pseudo-tirano" não promoveu guerra alguma, somente medo de guerra com a finalidade clara de controlar massas.
O que funcionou muito bem. Temos uma geração inteira de entorpecidos repetindo "paz e amor" como se isso fosse o maior tesouro que alguém pode ter. Para mim parece açúcar. Para mim parece que as pessoas exaltam, ou acreditam que exaltam a paz como se soubessem o que é guerra e são capazes de determinar que guerra é ruim. Não da pra culpar estas pessoas. Elas estão acostumadas a ver filmes e livros de história associar "guerra" com "morte", "caos", "destruição", "ruim", "mau", "mal", "terror", "horror", "medo", "medo", "medo". Sou incapaz de ver diferença entre uma massa na frente do cinema de hollywood comendo pipoca, alunos prestando atenção em sandices nas escolas de história, sociologia e filosofia (que diga-se de passagem nem é bom eu criticar muito porque nem entraram no ensino fundamental em primeiro lugar, olha o atraso em que a gente se encontra), ou então gente falando besteira nos bares e se entorpecendo. Talvez o aluno de história tenha um ego mais engessado e consiga criar a ilusão de que é diferente daquelas pessoas na frente da televisão, mas se convencer de que é diferente não torna alguém diferente. Um convencido será sempre igual a outro convencido, enquanto convencido. Escolha sua droga, mas continue aqui do meu lado se drogando.
Como é que a gente chegou neste ponto? De ficar correndo atrás do rabo de tal forma, que não somos capazes mais nem de apreciar nossa condição? Como é que alguém consegue se convencer de que é superior a alguém porque não se considera superior em primeiro lugar? Faz sentido isto? Toda vez que alguém propõe alguma coisa diferente do mais do mesmo, é relegado ao limbo e taxado como "utópico", "sonhador" ou coisa parecida. Eu direi no entanto, tenho conversado com pessoas e a "realidade" que qualquer um me descreve para mim é o "sonho". Uma pessoa não pode simplesmente determinar o que é realidade e assumir que a realidade é aquilo porque ela determinou. Um sonho continua sendo um sonho, quer o sonhador esteja convencido de que está experimentando a realidade ou não. Não tem ninguém aqui tentando acordar, este não é o objetivo. Mas qualquer um que não separe o que é fantasia e o que é realidade vai começar a ler estas sandices que as revistas, a televisão, as tantas outras mídias que são controladas pelos partidos políticos e pelos grupos religiosos, os artigos dos blogueiros ativistas, e francamente, isto que estou escrevendo aqui e começar a achar que quem escreveu está falando sério. Qualquer um incapaz de perceber que estou despejando um caminhão de merda aqui com estas palavras está admitindo que está tão atolado na merda que não sabe mais diferenciar merda de não-merda.
É evidente para mim que não tem ninguém que tenha algo de bom para falar, mas enquanto a gente não começar a falar, em contraposição ao que estamos fazendo até agora, que é fazer de conta que estamos falando, como é que vamos conseguir separar o que é besteira do que é sério? Eu estou colaborando dando o meu material para fins de comparação aqui, estou dando a certeza para qualquer um que precisar de certeza que tudo o que está neste texto certamente é besteira e não deve ser levado a sério. Mas tenho a impressão de que não está adiantando. Tenho a impressão de que ainda tem gente que lê esta merda e leva a sério. Exatamente como massa de manobra aplaudindo discursos de pé. Não sei se tem gente que tem prazer nisto, para mim é repugnante e me dói como uma facada ouvir "ah que legal o teu texto". Eu fico me perguntando: "o que é que eu posso falar que vai fazer todo mundo jogar pedra e me mandar calar a boca?" mas parece que estou cada vez mais longe do meu objetivo.
E quando algum filho da puta (filho da puta mesmo, foi isto que eu escrevi) vier me dizer que estou me botando no papel de vítima, que estou fazendo isto para chamar atenção e promover meu próprio ego, vai estar me fazendo um serviço muito grande, porque toda vez que eu escuto isto sinto que estou sendo incompreendido e consequentemente toma conta de mim uma tristeza muito grande e uma depressão mórbida, que criam um vazio enorme em mim que a natureza se encarrega de preencher com mais agressividade e me da forças para continuar falando. Não é o caso que eu tive a vontade de começar a falar em primeiro lugar. Não tem como alguém querer isto. Assim como qualquer outro membro que faz parte desta massa, meu objetivo é a paz, ficar quieto e ver o mundo passar diante de meus olhos. Se eu faço alguma coisa em algum lugar, em algum momento, é porque não tenho outra escolha a não ser levantar o cu da cadeira porque a água bateu na bunda e a situação que se apresenta está impedindo a minha tranquilidade.
Agora eu convido x leitorx a apreciar a sua situação. No momento em que escrevi isto estou com o cu sentado e fazendo muito pouco ou quase nada. Que diferença tenho eu de colunistas de revista de sandice? Estás sentadx a ler esta porra (ou então de pé com o "tablet", ou "smarthphone", ou então deitadx com o "noute" ou o "neti" no colo, ou então convencionalmente sentadx na frente do desktop, mas de qualquer forma estás aí olhando para um monitor, ou ouvindo um leitor de texto, pra quem é deficiente visual), mas não tem nenhumx leitorx estabelecendo algum processo de comunicação comigo. E não se iluda. Não adianta responder esta mensagem e achar que está se comunicando comigo. Os caminhos de comunicação de que dispomos, como o postador original colocou, "levam a Ele". Os modelos de comunicação que temos são replicações do mais do mesmo. O que estás a fazer ao ler esta porra, leitorx, é insistir em correr atrás do rabo. Mas como é que vamos fazer algo de novo enquanto alguém não cometer uma heresia? Enquanto alguém não ousar fazer algo diferente?
Agora é o momento onde a pessoa que leu tudo isto espera que eu dê a solução ou então apresente a proposta nova. Se fudeu. Não tenho nada de inteligente para dizer além das tuas próprias sandices, leitorx, talvez com outras palavras. Talvez eu tenha feito isto na ideia de demonstrar como é ridículo ficar lendo o que os outros escrevem e achar que isto se trata de usar o cérebro. Eu ainda tenho uma vantagem enorme de não ter escrito nenhum livro, de não ter conquistado nenhum título, de não ter minhas palavras publicadas em nenhum periódico "famoso", mas tudo isto não foi suficiente para te fazer não ler tudo isto como umx imbecil. Ah sim, eu uso palavras hostis e é fácil entender isto como arrogância. Mas é isto que está todo mundo acostumado a fazer: correr para se abraçar nas pernas da mamãe dizendo "mimimi, o Iuri foi hostil comigo". Dar razão à necessidade que as pessoas têm de ser tratadas com docilidade é afirmar a fraqueza delas. E olhando nos olhos das pessoas não vejo fraqueza alguma. Vejo seres humanos fortes que estão sendo reprimidos por uma sociedade mentalmente retardada. Pode me chamar de presunçoso e de arrogante, dizer que estou sendo preconceituoso com os deficientes mentais. Se tivesse alguém pensando por aí o mundo não estaria da forma como se apresenta. Só faz sentido as coisas estarem como estão se todo mundo fosse retardado, o que é exatamente o caso. Eu tenho a impressão de que vou morrer antes de superar meu próprio retardo mental, então não faz sentido ficar nessa vaidade de esperar eu me libertar para tentar descobrir como é que eu posso libertar os outros. Porque não tem como evitar de perceber que sozinho está meio difícil e não há perspectiva. E é exatamente isto que eu não quero para mim: ficar como todo mundo, sem perspectiva. Mas em uma terra de cego, como é que eu vou encontrar um olho em primeiro lugar?
E agora uma mensagem para os amigos céticos que vão insistir em dizer que eu sou um escritor: é evidente que este material todo pode ser interpretado como um produto que eu estou oferecendo. Todos estamos acostumados com o modelo convencional, né? Eu observo o que está acontecendo, forneço o meu produto de material escrito como se fosse a elucidação da realidade, vocês compram a minha revista como se eu estivesse fazendo o serviço de observar o mundo e dar a minha visão pronta para vocês, né? Pra que pensar, que da trabalho, se tem eu pra ficar observando o que acontece e dar uma ideia pronta, saindo do forno, que é o suficiente? É mais fácil ficar me dando dinheiro para pensar pelxs leitorxs do que cada um escrever sua própria história, né? Tudo bem então, vou aceitar a premissa do companheiro "HD" de que eu me "expresso bem". Eu definirei então esta como sendo a "notícia ruim": de que infelizmente ainda tem que alguém falar em cima do palco e ser aplaudido, como o próprio HD fez aqui em POA. A notícia boa é que não tem nenhuma lei determinando que todo mundo que tem alguma coisa para falar deve ficar quieto. Este texto por exemplo não contém absolutamente nada de bom, porque eu também não vou ficar entregando o ouro assim de graça. Mas eu como meus colegas metareckers também tenho algo bom para falar, e estamos calados porque fomos treinados a acreditar que não tem como falar alguma coisa sem que isto vire produto. Mas aceitar esta premissa parece o contrário de dar um fim ao silêncio para mim.
Aceitar ficar quieto parece o contrário de admitir a possibilidade de falar para mim. Ou tem alguém que fica quieto e fala ao mesmo tempo? Veja bem, não estou falando de linguagem escrita ou de ondas sonoras. Tenho consciência plena de que existe a linguagem corporal, existem sentimentos e emoções e tenho consciência da eficiência superior destas coisas em contraposição aos meios de comunicação restritos ao escopo do lógico-racional. O silêncio que eu falo é justamente este: não só emudecer a voz e a escrita, mas emudecer o corpo, a mente, o coração. Há alguém neste silêncio se comunicando por aí? Há alguém escondido dentro de si mesmo que está comovendo uma única pessoa sequer?
Silêncio para mim continua sendo o contrário de expressão. É justo que continuemos lutando pelo direito de se expressar. E eu vejo claramente que não tem ninguém aí se expressando. Parece um bando de papagaios para mim."
E depois de postar aqui ainda surgiu um adendo:
"Este texto, por exemplo. Não tem como não ver que eu não estou fazendo um esforço para ganhar a atenção de alguém. Vivemos em um momento onde todos querem respostas rápidas, prontas, direto ao ponto, ideias condensadas, enlatadas. E os textos longos que dispomos já não servem mais para nada (a não ser para os intelectuaizinhos de merda ficarem esnobando os "preguiçosos que não lêem"). Mas eu não estou aqui tentando vender minhas ideias para ninguém. De fato, se tem alguém que não quer ser escutado, se existe alguém assim, então provavelmente eu sou aquele que quer terminar de falar de uma vez pra poder ficar quieto, porque falar ou escrever me custa muito.
Mas tenho a impressão de que vão continuar achando que eu quero ser lido e escutado, que eu estou aqui tentando ganhar a aprovação de alguém, que eu acho que tenho algo bom para dizer. Tudo bem então, já estou acostumado com esta presunção das pessoas que eu estou sempre mentindo. E realmente toda vez que abro a boca ou escrevo não posso oferecer nada além de mentiras, nada mais honesto do que ser interpretado como mentiroso. Eu quieto estou mentindo.
Assim como não quero paz com ninguém, também não quero explicar nada pra ninguém. Quem sou eu para explicar alguma coisa? Eu quero é confusão mesmo."
Edição: Se alguém citar este texto ou parte dele, se alguém for alterar, copiar ou de qualquer forma usar o texto ou parte dele, me faça a gentileza de não citar o meu nome.
Comentários
É o fim do mundo
Glerm, que tal isto para "como eu acho que o mundo é hoje"?